1 – O senhor vê o aumento de interesse no Direito Desportivo pela sociedade como o resultado do trabalho de bons profissionais da área ou apenas repercussão das críticas da imprensa em alguns casos de grande apelo?
Acho que se deve basicamente por 3 fatores: interesse das pessoas pelo esporte em geral, pela repercussão midiática das decisões da Justiça Desportiva e pela idéia quase utópica por parte de muitos advogados de que esse mercado rende muito dinheiro para os profissionais que militam na área, mas a realidade é bem diferente disso: um mercado muito fechado que se torna ainda mais restritivo devido ao fato de vivermos sob uma monocultura desportiva no Brasil, clubes geridos amadoristicamente e à beira da falência e federações geridas de maneira feudal.
Tudo isso faz com que muitos percam o interesse inicial, ao verem as dificuldades desse mercado.
2 – Há uma sensação de que o Direito Desportivo é aplicado, e entendido, de forma muito diversa nos TJD’s e no STJD?
Não conheço a realidade de boa parte dos TJD’s pelo Brasil. Por isso, acho que não me sinto em condições de emitir qualquer pronunciamento a respeito.
3 – O senhor defende diversos clubes do Estado de Santa Catarina no STJD. Na temporada que vem, apesar da queda do Criciúma, a Serie A pode ter Chapecoense, Avaí, Joinville e Figueirense. Há, atualmente em SC, a sensação de que o Futebol profissional de lá tem se organizado melhor do que o do RJ, por exemplo?
Sem dúvida. Camisa não ganha mais jogo. Santa Catarina é, de fato, um exemplo a ser observado. Clubes bem estruturados, com gestão profissional e endividamento em muitos casos próximo de zero. Sempre digo que o resultado dentro de campo nada mais é do que o reflexo do que ocorre fora dele, na forma pela qual o clube é gerido. Houve uma pesquisa feita recentemente, em que os clubes que tinham os melhores balanços financeiros eram, em regra geral, os que estavam na parte alta da tabela do campeonato brasileiro.
Vejo muitos profissionais que preferem trabalhar em clubes com menor expressão nacional, com valores remuneratórios mais condizentes com a realidade do país, mas que cumprem com suas obrigações em dia, do que em equipes de massa, com salários estratosféricos, mas que só recebem décadas depois na Justiça do Trabalho… Eu, por exemplo, também já fui vitima disso…
4 – Houve um crescimento na produção literária acerca do Direito Desportivo. Para o senhor, os novos autores mantiveram a qualidade dos trabalhos acadêmicos de seus antecessores, como Álvaro Melo Filho?
Ainda há poucos trabalhos de fôlego na área, já que o aumento significativo se dá por meio de obras coletivas, mas são raros os autores que escrevem sobre o assunto em obras monográficas. Acho que a grande alavanca para estimular a melhora da produção se daria pela inserção da cadeira de Direito Desportivo na grade curricular dos cursos de Direito, pois haveria maior mercado para dar vazão a essa produção literária, além é claro, de uma mudança na governança do esporte brasileiro, como disse acima.
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